cabal

billa brambella
2 min readJul 8, 2020

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quis que melhorasse e crescesse. só machucou. passo o dedo no corolário ralado e imagino se a minha outra face está bem depois da explosão. se a antiescolha a manteve viva. nos seus e nos meus pensamentos.
traçando um caminho inverso encontro o remanso da anulação. essa ideia me arrepia enquanto passa. se a tecla que me movimenta através é backspace, não estou escrevendo. estou catando os pedaços pra colocá-los exatamente onde pertenciam antes. o olho direito, a sobrancelha assimétrica, o nariz desviado, e a boca que nunca tive. não é sobre querer. nessa realidade não se reescreve. é fixa e se passa por ela apenas uma vez.
você me olha inteira destroçada e diz “é tarde”. e é mesmo. se eu soubesse antes do que sei agora… as reticências são infinitas. o lampejo de uma possibilidade reluz. é onde estávamos, estivemos, onde estamos. se nada tivesse explodido dentro, sairia ilesa? se a explosão não causasse também a implosão no verso do bordado, mas a simples estabilidade de ser… as reticências talvez já nem fossem. só que é inútil conjecturar esse lugar se ele não existe na minha linha.
os arranhões que eu disparei contra mim por vontade de dilacerar, por vontade de me rasgar feito um papel e mudar. ao invés, se partissem dessa existência contrária, fossem um carinho. um carinho que me afagasse e mostrasse lúcida a pertença: a vontade será. se eu não insistisse em correr na direção oposta. e se seria diferente? ou apenas a outra face da mesma incerteza?

o veado ferido, frida kahlo

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billa brambella

gosta de rasurar sua existência, falar de mulher, de filme de terror, pensar em novos lugares, beber vinho barato e causar incômodo