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billa brambella
3 min readMar 5, 2020

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título
a flecha catucando o calcanhar de AQUIles pergunta por você. falamos muito essa semana no teatro sobre ausência e presença, sufoco e alívio. desenhei uma linha na lousa inteira pensando em nós, a sala toda viu. nossos encontros eram rodas emaranhadas de espirais. não tem como te tirar daqui e olha que existem espaços vários. foi baqueante o que fez a equipe de iluminação jogando com luzes a impressão de estar no mesmo espaço e não estar e vice-versa planos diferentes existindo em simultâneo. adoro a expressão jogo de luzes. ao me apresentar disse que trampava com o onírico queria ser teatral com as mãos tenho mesmo vontade de criar esse lugar quimérico onde a gente coabita. eu também sei brincar do meu jeito jogo luzes em algumas palavras escondo outras

ah se essa dramaturgia fosse minha se essa rua se essa rua fosse minha eu mandava eu mandava ladrilhar com pedrinhas com pedrinhas de brilhante só pro meu para o meu amor passar. fico pensando, vamos trabalhar a espacialidade, o material da Coisa. quantos e quais espaços há entre os nossos corpos? se sim, eles estão vazios ou cheios? (falo muito “fico pensando”. escrevo também, porque eu fico mesmo pensando, é meu estado natural. fico aqui pensando observando sentindo mas nem sempre de corpo presente) e o presente? é uma coincidência o presente que se dá e o presente que se vive serem chamados pelo mesmo nome? mas vocês não

dá vontade de te mandar embora sair desembestada pra longe isso é uma Coisa minha a criatura dá impulso de fugir. mas e o medo de perder nosso momento. e se o nosso momento for só uma dança você dançando esquisito eu rindo bonito solta esvoaçante como gosto de dançar? você dança comigo? dança comigo presente ou só no pensamento a cidade lá fora caindo aos pedaços a gente dando geometria aos escombros aqui dentro. a nossa dança ondas nessa linha. q alívio seria dum sufoco íntimo como se fosse como se fosse também adoro “como se fosse” chegar em casa apertada pra mijar sentar e poder se derramar. amar já foi uma delícia e é e pode ser mais uma vez diferente. não acredito qu’eu joguei luz nessa palavra gasta cafona demodé o masculino de Amora o nome da minha filha imaginária q eu tive de maneira inexplicável trazendo comigo mesma essa corporeidade dum bagulho tão etéreo e provavelmente tão imaginado quanto mas SENTIDO com os seis no auge da minha vontade clandestina ponta dos dedos é um alívio gozar. disso a gente sabe no fundo não precisa nem usar a palavra a materialidade é sedutora

também disse que alívio era poder pagar a comida dos gatos ver o mar ter tempo matar a fome mas pensar em você sei lá não me alivia muito mais me revira o estômago já o seu calor traz a calma da presença pra mesma região ali entre o peito e o abdômen. parece toda uma carta pra você mas rá te enganei sequer existe outra pessoa aqui só a eu de costume e essa é na verdade uma anotação do que está sendo feito e do que não está no teatro e fora dele

(04 de março)

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billa brambella

gosta de rasurar sua existência, falar de mulher, de filme de terror, pensar em novos lugares, beber vinho barato e causar incômodo