27 de janeiro

ou lista enumerada de Coisas humanas

treinar as vistas no jardim da biblioteca mário de andrade. as vistas, não a imaginação umbilical. vejamos
1. um rapaz ajeitando o cabelo da moça atrás de orelha, uma mãe, três presilhas e uma botinha com meia preta na canela. ele usava um short amarelo e um tênis rosa
2. outro que parecia meu antigo vizinho de quarto e ao encarar demais parece que me sorriu
3. minhas pernas inquietas feito borboletas
4. um senhor com cara fechada pisando nas tábuas soltas do pequeno jardim, instáveis, pareciam gangorra de criança
5. uma moça acabou de pisar em falso por cima das mesmas tábuas e parou pra olhar o que estava acontecendo com aquele chão
6. a criança apoia o peso da sua cabeça nos braços em movimento da mãe supracitada com total confiança de que seus movimentos não o derrubarão (confiaria assim apenas na minha mãe, nota)
7. um outro senhor bigodudo levanta de um dos bancos e testa as tábuas soltas como que pra conferir o que ele viu, que estavam soltas mesmo, achei que só eu estivesse olhando, é muito comum achar que só eu estou olhando
8. a família sentada no banco já não está mais e não percebi sua saída, significa que nem sempre estou olhando como penso que estou
9. um rapaz de amarelo passa pela frente da biblioteca como se estivesse procurando algo ou alguém e me faz recordar do meu próprio olhar perdido por aí, nunca vi, mas os outros a observar provavelmente percebem
10. cai um pequeno papel branco recortado sobre a mesa em que estou sozinha, debruçada sobre os dois cotovelos, me intriga muito, de onde veio esse picote? penso em minhas recortagens por terminar (poucas vezes chego na parte que cola)
droga! quantas foram as vezes que me usei como referência?
11. só mais um adendo: tento escutar alguma Coisa conforme sugere o exercício mas escuto muito mal e não consigo entender nada. jurei que não seria sobre mim
12. duas fendas num vestido verde
13. um homem e uma mulher se beijando e lembro que na china os namorados não pegam na mão em público
14. ver então meu amor vigente com uma mochila enorme nas costas me faz escrever esse versinho pra passar meia hora sem tédio enquanto há espera